Quais são os hábitos alimentares do mosquito Aedes aegypti? É esta pergunta que o professor Antônio Pancrácio de Souza, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tenta responder em uma pesquisa que vem desenvolvendo com o financiamento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect). Em 12 meses de pesquisa e contando com a colaboração de dois alunos de Iniciação Científica, Antônio Pancrácio de Souza já realizou cerca de 70% do trabalho previsto no início do projeto. É sobre ele que Antônio fala nesta entrevista ao Rio Contra Dengue. Confira!
Fale um pouco sobre o estudo que está sendo realizado por você. Como e por que surgiu a ideia de pesquisar os hábitos alimentares do Aedes aegypti?
Antônio Pancrácio de Souza: O controle do mosquito da dengue tem se tornado um grande desafio para a nossa sociedade. Eu penso que deve haver lacunas do conhecimento sobre a biologia e a ecologia do inseto a serem preenchidas. A minha busca tem a motivação de preencher a lacuna com respeito a interação do inseto com as plantas que nos cercam, a fim de avaliar se existem plantas em nossos jardins que estão favorecendo a sobrevivência do inseto. Sabemos que as fêmeas sugam sangue para a maturação dos ovos. Ela pode se alimentar apenas de sangue, mas a presença da planta pode garantir uma fonte alimentar mais segura ao inseto.
Quais são os principais objetivos e itens do trabalho e como ele tem evoluído?
Antônio Pancrácio de Souza: Estamos investigando plantas de uso comum em nossos quintais e no momento temos detectado apenas a planta de nome Coroa de Cristo como positiva para a sobrevivência do inseto. Outras plantas estão sendo testadas.
O que, em sua opinião, a pesquisa tem de mais inovador?
Antônio Pancrácio de Souza: A inovação é abrir o leque de pesquisas para as plantas seja no sentido de descobrir outras plantas repelentes ao inseto. Em relação àquelas atraentes, se o inseto tem esta planta evidentemente ele vai buscar o sangue apenas para ovipositar. Isso pode ser vantajoso para as pessoas porque diminui o número de picadas, mas pode também ser vantajoso para o inseto porque se alimentar da planta representa menor risco de morrer, a menos que esta planta tenha predadores adaptados para atacar o inseto no ato da sua alimentação de néctar. Enfim, este trabalho abre um campo enorme de oportunidades de pesquisas.
Que aplicações práticas podem ser possíveis a partir do trabalho realizado? Ele pode mudar estratégias de combate e controle da doença? De que forma?
Antônio Pancrácio de Souza: Esta pesquisa é um ponto de partida para um enfoque sobre as plantas que estão ao nosso redor. O inseto vive intimamente com o ser humano e todos os nossos hábitos têm que ser pensados a fim de se descobrir quais deles têm favorecido a sobrevivência do mosquito da dengue. Muito já sabemos a respeito dos criadouros artificiais, que são maus hábitos nossos que contribuem para a permanência da população do mosquito em nosso meio. O conhecimento sobre a relação inseto-planta, no caso do mosquito da dengue, pode contribuir em muito para uma maior eficiência no seu controle. A ideia é descobrir pontos fracos do inseto no seu ambiente natural, não alterar esse ambiente com a eliminação de plantas, mas promover uma manipulação do habitat do mosquito de modo a afetar a sua sobrevivência.